Segundo Espinosa, a pior fase da vida
é a infância. Não por algum problema intrínseco a essa fase da vida. A infância
é a pior fase porque é nesse estágio da vida que mais sofremos a influência dos
adultos que nos cercam, sem termos ainda o discernimento para avaliar
criticamente o que certos adultos fazem e cultivam. Um adulto tem como escolher de quem se
aproximar ou afastar, mas a criança não tem como pensar seus encontros. Ela está à mercê, na mente e no corpo. Se um
adulto se aproxima de alguém quando na verdade deveria se afastar, isso é um
erro de seu discernimento. Porém uma
criança não tem ainda essa capacidade de avaliar. “Criança” significa: “aquele que crê”. A criança é a crença em seu estado puro , sem o conhecimento da índole dos adultos que a
cercam. O mau não está nessa propensão a
crer e imitar, o mau está no adulto que se vale disso e se apresenta como
modelo a imitar. Esse adulto poderá “entrar” de tal modo na mente da criança que depois dará muito trabalho à boa educação retirar essa má influência,
quando ainda dá tempo para retirar... A criança é “inocente”, isto é, sem a noção do
que é veneno ou alimento. Mas um adulto que força uma criança a imitar um comportamento que simula
uma arma apontada genericamente , na verdade é para a sociedade inteira que essa
arma estará sendo apontada. Tal adulto parece querer inocular na criança o
veneno de que é isto que merece o outro:
uma arma apontada pelo simples fato de ser outro, diferente. Na sua inocência, a criança imita. Mas não há nenhuma
inocência no adulto que a força a imitar
: a arma que ele faz a mão inocente da criança virar está apontada pra gente.
( relutei muito em postar essa foto junto com o texto, tão
constrangedora ela é. Mas quando agimos movidos pela justa indignação, e não
por mero ódio , ao fazermos uma acusação
é preciso mostrar o crime)
obs.:O livro “Werther”, de Goethe, foi
proibido por décadas em vários países. Werther é um jovem romântico que escreve
cartas de amor para uma mulher pela qual ele se apaixonou. Era uma mulher casada.
Então, ele escreve uma última carta justificando um ato extremo que ele
cometeria. Em seu delírio , ele tinha a certeza de que aquela mulher seria de
outro apenas naquela vida, mas seria dele em outra vida. Ele comete então o
suicídio. As cartas são tão persuasivas que vários jovens em situação
semelhante também se matavam. Porém o poder de persuasão do livro era aumentado
devido à mentalidade da época: o “Romantismo”. O que quero dizer é que
tragédias semelhantes à de Suzano já aconteceram no passado, isso é fato. Mas o
gesto do bozo é mais perigoso enquanto mau exemplo às crianças e jovens devido
à mentalidade de ódio e belicista que paira sobre nossas cabeças. Seu gesto
insano potencializa tal mentalidade.
Crianças
precisam de meios que potencializem sua criatividade e compreensão progressiva
do mundo e de si própria. Adultos e instituições que auxiliem a criança nessa
descoberta tornarão a infância a melhor das épocas.
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