quinta-feira, 29 de novembro de 2018

suburbano


"Suburbano" não é um sub-urbano, um urbano de segunda categoria. O prefixo “sub” não indica um ordenamento hierárquico. Seu sentido original é o mesmo do “sub” presente em “substância”, pois substância, em Espinosa por exemplo,  é o que sustenta toda instância, tanto as instâncias físicas  quanto as simbólicas, as tangíveis e as intangíveis. No Rio, o espaço suburbano não é apenas um espaço físico distante do Centro e da Zona Sul. No território suburbano vive o que sustenta todo espaço urbano: a sociabilidade pautada pelo afeto ao que é  comum. É este o “sub” do suburbano: o afeto, antes mesmo da propriedade e do comércio. O afeto é meio de agenciamentos não totalmente codificáveis pela lógica do planejamento racional urbano. Brasília não podia dar certo: não se pode  colocar no papel um espaço suburbano, pois este nasce da vida espontânea que existe fora do que se pode criar apenas abstratamente no papel.
Na Grécia, “demos” era o nome dado aos subúrbios de Atenas. Curiosamente, “democracia” é, literalmente”, “poder daquilo que em nós é suburbano”, e que é a base da vida urbana. Sem esse “sub”, o urbano se torna apenas coleção de indivíduos reclusos e emparedados em   suas solidões privadas cercadas de câmeras de vigilância  paranoicas e arame farpado nos muros.






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