"Suburbano" não é um sub-urbano, um
urbano de segunda categoria. O prefixo “sub” não indica um ordenamento
hierárquico. Seu sentido original é o mesmo do “sub” presente em “substância”,
pois substância, em Espinosa por exemplo, é o que sustenta toda instância, tanto as instâncias físicas quanto as simbólicas, as tangíveis e as intangíveis.
No Rio, o espaço suburbano não é apenas um espaço físico distante do Centro e
da Zona Sul. No território suburbano vive o que sustenta todo espaço urbano: a
sociabilidade pautada pelo afeto ao que é comum. É este o “sub” do suburbano: o
afeto, antes mesmo da propriedade e do comércio. O afeto é meio de agenciamentos
não totalmente codificáveis pela lógica do planejamento racional urbano.
Brasília não podia dar certo: não se pode colocar no papel um espaço suburbano, pois
este nasce da vida espontânea que existe fora do que se pode criar apenas abstratamente no papel.
Na Grécia, “demos” era o nome dado aos subúrbios
de Atenas. Curiosamente, “democracia” é, literalmente”, “poder daquilo que em
nós é suburbano”, e que é a base da vida urbana. Sem esse “sub”, o urbano se
torna apenas coleção de indivíduos reclusos e emparedados em suas
solidões privadas cercadas de câmeras de vigilância paranoicas e arame farpado nos muros.
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