quarta-feira, 18 de abril de 2018

o ouro do poeta

No poema “Achadouros” Manoel de Barros nos fala de uma senhora contadora de histórias que ele conheceu quando criança. Tal senhora dizia haver “achadouros” em Corumbá. Os “achadouros” eram buracos feitos pelos holandeses em seus quintais para esconder suas moedas de ouro, antes de fugirem apressadamente do Brasil. Durante muito tempo em Corumbá, movidos pelo desejo de encontrar tais tesouros , os homens escavaram quintais para ver se ali achavam ouro...
O poeta aprendeu a descobrir “achadouros” também, mas o tesouro que ele acha é outro : ele escava o chão escuro até achar “celestamentos” ; ele escava em si mesmo até achar o embrião de múltiplos outros; ele escava nos resignados olhos que imaginam já tudo terem visto até achar os “olhos de descobrir” de um devir-criança. E tudo o que o poeta acha, é a poesia mesma que, empoemando-o, põe nele ( para assim, quem sabe, acharmos tal ouro também em nós, ao lê-lo).




O homem, em última análise, somente acha nas coisas aquilo que ele mesmo nelas pôs. O ato de achar se intitula ciência; o ato de pôr se chama arte. Nietzsche




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