O valor de uma ideia não está em ser verdadeira ou falsa,
o valor está em saber se ela é interessante ou bela.
Gilles Deleuze
O ódio é como a chama que vai devorando um pavio. Ele não cessa de destruir o que o mantém vivo, exatamente o fio. O ódio só para quando atinge a bomba.
Talvez vivamos a época em que há uma bomba no meio de um pavio
que se estende à direita e à esquerda da bomba. As duas extremidades do pavio estão
acesas, e cada extremo vai consumindo seu pavio com o fito de ameaçar o outro extremo.O encontro desses extremos odiantes coincide com a vitória da bomba.
O afeto que afirma a vida não é como o fio do pavio, talvez
se assemelhe ao fio que sai de um novelo , e se oferece como linha de fuga aos que
estão em perigo, perdidos. Expandir o novelo através de si, criando conexões e bordaduras , é essa a maneira que uma linha de fuga tem de resistir.
O fio do pavio existe em razão de uma bomba, de uma
destruição. O fio do novelo se expande e se amplia, do tamanho de uma invenção,
como trama, bordadura, rizoma, conexão.
A bomba se expande destruindo tudo , o novelo se expande
construindo a tessitura de um mundo, mesmo que ainda por vir.
(participo de um capítulo deste livro, falando de Cláudio Ulpiano, Deleuze, Espinosa e Manoel de Barros, novelos dos quais extraio o fio para minha bordadura).
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