domingo, 10 de setembro de 2017

quando crescer vou virar criança

O nascer é um acontecimento que apenas o verbo pode dizer. Os anos que vivemos parecem que vão nos afastando daquela origem, e chamamos a isso de crescimento. Contudo, vamos aumentando apenas em tamanho coisal, ao passo que o nascer é sempre pré-coisa. Quando vamos nos tornando adultos, os anos passando, aumentamos em matéria e substância, não necessariamente em inauguramentos
Contudo, a força que nos faz nascer e nos conserva no viver não são duas, elas são a mesma, única – como viu Espinosa. A força que conserva é a mesma que cria: somente o que é criado, nascido, pode ser conservado. Do ponto de vista da força que faz nascer, não há diferença entre criar e conservar. É no nascido que se dá a dicotomia, quando este imagina que viver é afastar-se do nascer. Mas é no nascer que a identidade  entre criar e conservar se mostra mais viva, vez que não há ainda nesse acontecimento um “eu” que se queira tomar como algo pronto, não mais larva
O poeta, ao contrário, cresce se aproximando dessa força, desse nascer, como disse Manoel de Barros: “Quando crescer vou virar criança." 


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