domingo, 27 de agosto de 2017

o que pode um corpo...

A mente está unida ao universo inteiro, e não apenas ao seu corpo. 
Mas ela está unida ao universo inteiro estando unida ao seu corpo também.
Espinosa

Apenas os movimentos do corpo não são suficientes para explicar se tais movimentos são ativos ou passivos, potentes ou impotentes. Quem visse o Judas em seu beijo , e não conhecesse a ideia que acompanhava aquele gesto, poderia imaginar que aquele movimento era expressão de um amor. Quem vê o boxeador desferindo um soco certeiro , pode imaginar que ele golpeia movido pelo ódio ao adversário. Mas o beijo de Judas é pior do que um soco, ele é um movimento do corpo que, do ponto de vista da ética, está acompanhado de  um ódio, um ódio ao amor. Já o soco do pugilista não é raiva ou ódio, é um soco acompanhado da ideia de amor ao boxe. Quem medita imóvel, porém com os ouvidos abertos, exerce uma ação ativa de ouvir, embora esteja o corpo sem correr ou se agitar. Ao contrário, os agitados movimentos do narciso em sua academia nada têm de ativos ou potentes, são apenas movimentos de impotência, apesar de aumentarem em tamanho os músculos.Entre mafiosos, um abraço não é manifestação de amizade, pode ser uma sentença de morte.
Um corpo ativo, potente, não se explica apenas pelos movimentos no espaço, tampouco ação é só aquilo que se faz andando ou correndo. Ouvir também é uma ação, uma potência, ao passo que o falar ,quando mera tagarelice, é impotência no dizer. 
Apenas os movimentos que um corpo faz não são suficientes para explicar se tais movimentos expressam ação ou paixão, potência ou impotência, alegria ou tristeza, amor ou ódio. A diferença entre ação e paixão não está no próprio movimento que o corpo faz, mas na ideia que acompanha tais movimentos. 






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