(versão ampliada da Introdução do livro)
Serás menos escravo do
amanhã,
se te tornares dono do
presente.
Sêneca
O não-filosófico está talvez mais no
coração da filosofia que a própria filosofia,
e
significa que a filosofia não pode contentar-se
em ser compreendida somente de maneira
filosófica ou conceitual.
Gilles Deleuze
Mais importante do que o pensamento é o
que “dá a pensar”;
mais importante do que o filósofo é o
poeta.
Gilles Deleuze
Dar uma definição rápida do que
significa a filosofia não é tarefa fácil. Oriunda do grego, a palavra
“filosofia” nasceu da reunião de duas outras palavras: “philo” e
“sophia”. “Philo” significa tanto “amor” como “amizade”. Isso quer dizer que a
filosofia não é prática apenas intelectual ou racional, pois ela se nutre
também de uma dimensão afetiva, expressa exatamente pelo termo “philo”. Deleuze
afirma, por exemplo, que a filosofia não é apenas Conceito, ela também é Afeto (este
termo não significa a mesma coisa que o mero sentimento [2]
). Espinosa ensina, por sua vez, que a filosofia é prática que se faz na
Alegria. Outros, como Kierkegaard, Heidegger e Sartre, enfatizam o afeto da
Angústia. Há ainda Aristóteles, para quem a filosofia começa na Admiração.
Nunca, absolutamente nunca, algum filósofo ensinou que a filosofia pode nascer
do ódio, da covardia, do medo ou da intolerância. Ao contrário, a filosofia é
um esforço para se tentar vencer essas “sombras”, como diria Jung, ou essas
“tristezas”, nas palavras de Espinosa. E é antes de tudo naquele que filosofa
que a vitória deve anunciar-se primeiro.
O filósofo não é apenas aquele que
domina a prática teórica e metodológica de definir conceitos, ele também é
aquele que se afeta pelo que “dá a
pensar”, e o que dá a pensar nem
sempre pode ser explicado por conceitos. Nem sempre o que dá a pensar já está
pensado e definido em livros e teorias. Um filme, uma música, um gesto, uma paisagem
, um poema, um acontecimento...também dão o que pensar, ou podem dar o que
pensar. Mas nada dá tanto a pensar do que a própria vida.
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