sábado, 21 de janeiro de 2017

horizontar-se...

Eu tentei me horizontar às andorinhas.
Manoel de Barros

Há sempre andorinhas por onde eu vou.
São Francisco de Assis

O plano de imanência é o horizonte absoluto.
Deleuze & Guattari

Nada é mais profundo do que a superfície.
Kandinsky

O pensamento não é um poço para ser, como este, profundo. Ser pro-fundo é “ir  em direção do fundo”, cada vez mais fechado, abaixo do céu . O pensamento não é um poço, ele é um horizontar-se. Nunca dizemos que um horizonte é profundo, dizemos que tem profundidade, que é o quanto ele tem de espaço aberto  à frente, entre a terra e o céu.
Ter profundidade não é ser profundo. Na pintura, a profundidade de um quadro  expressa mais do que a terceira dimensão do espaço, ela expressa o horizonte aberto do tempo. Os horizontes têm o máximo de profundidade sem serem  profundos.
Os poços teriam profundidade se o seu profundo fosse tão profundo , mas tão profundo que , atravessando o interior da terra, veriam de perto o magma que sai dos vulcões.  Mas seria preciso ainda  vencer  a este Hades e ir além, atravessando os estratos que a história sedimentou, para alcançar  a superfície contrária àquela onde inicialmente  se escavou: aprofundando nosso ocidente chegaríamos ao oriente, aprofundando nossa noite alcançaríamos nossa manhã, e nosso profundo seria fonte nascendo , como fluxo, em um  chão nunca antes por nós pisado.
E, como toda fonte, correríamos para o horizonte  reencontrado com o máximo de confiança que tivéssemos , multiplicando-nos em todas as direções que inventássemos.






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