quinta-feira, 24 de setembro de 2015

eros & psiquê



Afrodite ( A Deusa da Beleza): "- Como!? Existe entre esses seres efêmeros , que mais parecem um pó rasteiro que o vento leva, existe entre os homens alguém mais  bela do que eu? Como pode!?E que nome estranho esse ser tem : Alma (Psiquê)...Como a alma pode ser mais bela do que eu, que sou o Corpo!Só em mim pode haver beleza, já que beleza só existe para os olhos! E são os homens mesmos que me adoram com os olhos!Não apenas os homens me adoram.A prova disso é que meu servo maior é o Amor, que não tira os olhos de mim e me cobiça para ser posse exclusiva sua. Mas eu não cedo e jogo com ele, uso ele para reinar sobre todos.Essa Alma não pode ser mais bela do que eu! Mas não quero ir conferir ou ficar em dúvida..."
(Afrodite manda chamar então Eros, o Deus do Amor)
(Dirigindo-se a Eros, Afrodite ordena) :"Quero que você vá onde vivem os homens, encontre uma jovem chamada Alma e atravesse o coração dela com sua flecha . Faça ela se apaixonar pelo homem mais pobre, burro e feio que houver em toda Grécia..."

E lá veio Eros procurar Psiquê, lá veio o Amor buscando achar a Alma. Ele nunca a tinha visto antes. Ele não sabia o que ia encontrar. Guiava-o a memória da Beleza do Corpo, pois tal Beleza era Afrodite. Nada do que seus olhos vissem fora dele poderia ser mais belo do que a recordação que vivia em sua memória, assim pensava o Amor antes de encontrar-se com a Alma.Afrodite era a coisa mais bonita que ele vira, e essa verdade o completava , desde que ele estivesse perto dela.
Porém, nem o Amor e nem o Corpo sabiam o que podia a Alma, sobretudo quando a vemos, quando nos encontramos com ela.Ouvir apenas falar dela não é conhecê-la. A Alma somente pode ser conhecida diretamente, sem intermediários.
Então, o Amor achou  a Alma, Eros conheceu Psiquê.O Amor sentiu nascer dentro dele um outro, esse outro era um amor novo,  que era o Amor mesmo,  porém renovado, potencializado, mais amor do que nunca. Esse amor pela Alma não era uma negação do antigo amor ao Corpo, mas o conhecer algo novo que afirma mais o que já somos. Enquanto o amor pelo Corpo submetia Eros a caprichos e prazeres exigidos pelo ser amado, como se fosse um preço a ser pago, esse amor nascido do encontro com a Alma o fazia voltar-se para si mesmo e descobrir uma graça nascida de um desejo que não se esgota na posse e no imediato .O Amor percebeu então que ele podia ser reinventado, experimentar uma nova maneira de ele ser . E que ele próprio, o amor, desconhecia tudo o que o amor pode. Ele viu que se desconhecia e que havia nele potencialidades de amar que somente poderiam se tornar reais se ele se unisse à Alma.A união dele com o Corpo era exterior ; contudo, o Amor sentia que para ele se unir à Alma ele deveria morar dentro dela: cada um seria no outro, sem carência ou falta. Mas o que é a Alma? Ela é invisível, intangível, mas como tem realidade e potência para quem a conhece! E quem a vê nunca mais a esquece.E ela não está nos céus, nem no Olimpo, ela vive dentro do homem.O Amor é eterno, mas não o é a Alma. Ela nasceu ninguém sabe como, pois onde menos se esperava , ali  nasceu ela. Ela não nasceu divina, nasceu humana. Sua divindade seria conquistada por Justiça, e não por nascimento ou aparência. Só uma divindade pode gerar uma divindade. Mas a Alma, embora não fosse divina,   fez nascer no Amor um ser novo, que era o Amor mesmo com  olhos outros, diferentes,capazes de verem  o que se esconde de belo nos homens, apesar de toda feiura que eles frequentemente são, dizem  e fazem.

Foi Zeus, o Deus da Justiça, que, convencido por Eros, tornou a Alma capaz de se eternizar. Nela, portanto, a eternidade não seria uma natureza ou essência, mas algo que ela deveria conquistar, provar de ser merecedora. Disse a Justiça à Alma: “Sempre a eternidade será tua se na companhia do Amor você sempre estiver."




"No princípio era apenas o Caos, e do Caos nascem Gaia (a Terra) e Eros..."
Hesíodo,Teogonia.








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