segunda-feira, 7 de setembro de 2015

didáticas da invenção

MANOEL DE BARROS:UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO
(artigo publicado na Revista Brasileiros, em parceria com Paulo Vasco)

A primeira vez que ouvi falar de Manoel de Barros foi em uma aula de filosofia ministrada por um professor pelo qual eu tinha uma imensa admiração, o filósofo Cláudio Ulpiano. Este citou um verso do poeta para ilustrar uma ideia da filosofia. Eu tinha pouco mais de 20 anos. Uma outra pessoa “desabriu em mim”. Nunca mais parei de comungar com seus versos, seus pensamentos, suas visões comungantes. Ele me terapeutou. Parte dessa “terapia” foi me curar de uma propensão acadêmica de pouco olhar para o Brasil. Ficamos com os olhos teóricos na França, na Alemanha...e não vemos o nosso quintal. O poeta me ensinou a “desaprender os saberes que vêm em tomos”.
 Dessa terapia verbal ousei escrever um livro sobre o poeta.  O próprio poeta foi meu primeiro leitor, pois enviei os rascunhos, as “formas em rascunhos”, para ele. Eu pedia sua autorização para publicação. Obtive o endereço do poeta com sua filha, a Martha Barros, em 2008.Ela me orientou a não telefonar para ele e muito menos escrever-lhe e-mails. Eu deveria escrever para o poeta à mão, pois assim ele veria, além da letra, o espírito. Fiz o recomendado. Enquanto não vinha a resposta do poeta, fiquei com o coração na mão. Um dia, recebi uma carta com letrinha miudinha, parecendo caminho de formiga. Com generosidade e atenção, ele autorizou a publicação do livro. “Voei fora da asa” de tanta alegria. No livro, foram com essas simples palavras que terminei a apresentação que fiz do querido e inestimável poeta:
 “Mais do que um poeta, Manoel de Barros é um pensador, um pensador brasileiro. Empregamos aqui ‘brasileiro’ no sentido mais genuíno e rico que esta palavra pode ter, pois ser brasileiro é ser, em essência, ‘mestiço’. Não nos referimos, claro, a uma mestiçagem baseada em cores de pele, mas na mistura singular de almas heterogêneas    que fazem nascer em uma única alma a capacidade de falar e sentir por muitas. Só a mestiçagem de almas pode dar nascimento   a um estilo ao mesmo tempo singular e plural, poético e filosófico, autóctone e estrangeiro.” (Manoel de Barros: a poética do deslimite, Rio de Janeiro, Editora 7letras/FAPERJ, 2010). 

link para texto completo:
http://brasileiros.com.br/2015/01/manoel-de-barros-uma-didatica-da-invencao/

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