terça-feira, 17 de junho de 2014

manoel de barros: a verdez das coisas





(trecho do livro)

Guiados pela leitura das poesias de Manoel de Barros, fomos surpreendidos por uma positividade muitas vezes desconcertante, inaugural, que flagra a “verdez das coisas” , como o poeta mesmo diz, e as retrata em palavras que nos deixam ver o deslimite enquanto matéria de sua poesia.
A Vida é um processo que atravessa nosso vivido e rompe os limites utilitários deste; do mesmo modo que o Sentido , quando trabalhado pelo poeta, emerge na linguagem extravasando as significações dominantes que prescrevem à palavra um limite. O deslimite é o processo que faz do inacabamento o estado sempre renovado que não deixa com que as coisas acabem, sendo então reinventadas pelo processo criativo ― tanto na poesia como na vida.

Atingir o deslimite não significa destruir-se ou negar-se. Ao contrário, é o limite que destrói a invenção que se pode e se deseja. O deslimite , portanto, é uma experiência com a Vida, e não com a morte ( nos vários sentidos que essa palavra pode ter).Embora seja uma experiência eminentemente poética, isso não significa que ela seja suscitada apenas pela leitura de poesia. A essência de tal experiência é exatamente nos ensinar a alargar a compreensão do que seja poesia, como faz Manoel de Barros, para que a vejamos em todas as coisas que, rompendo seus limites, deixam ver a Vida.

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