Se a gente não der o amor ele apodrece em nós.
Manoel de Barros
O que diz Manoel também já o disseram
sábios, santos, simples.Já o disseram fazendo.Quando a gente dá o amor, aquele
que o recebe e o que dá passam a existir mais. O poeta dá o amor à palavra: ao
receber o amor que o poeta lhe dá, a palavra também recebe o poeta e deixa que
ele viva nela. E assim o poeta já não vive apenas dentro dele, mas vive fora,
nas coisas, no mundo. Van Gogh deu amor às tintas, e estas o receberam
amando-o. E Van Gogh se metamorfoseou em girassol que nunca apodrece, mesmo que
apodreçam as tintas com as quais o girassol pintado é feito.
Ódio, inveja, rancor, cobiça,
vaidade...são frutos apodrecidos.Ódio, inveja...são amor apodrecido, e isto se
vê facilmente no rosto , nas palavras e nas ações de quem os sente. As paixões
tristes, como ensina Espinosa, são frutos apodrecidos . O ódio , o rancor, a
cobiça, a vaidade...não são o fruto original,pois estes frutos não nascem da
árvore da vida, da árvore da Natureza. Se tais paixões tristes existem e
governam os homens, é na alma destes que tais frutos têm raízes. Não raro,
estes frutos apodrecidos são a moeda pela qual se compram ou obtêm fama, poder,
posses, títulos.
Somente o amor é, da árvore da vida, o
fruto. Fruto que não se vende ou troca, mas que se dá, que se oferta. O poeta
dá o amor sem esperar amor em troca. Ele dá o que já está nele, e não o que lhe
falta. Generosidade da invenção, da alegria.
Mas antes do fruto estar maduro, ele cresce em
nós ainda verde. Ele amadurece em nós de acordo como amamos a nós mesmos, de
acordo como o cultivamos cultivando-nos.E isto se faz discretamente, sem
alarde, sem esperar reconhecimentos, a não ser da própria árvore que gerou o
fruto. E esta nos recompensa fazendo nascer mais frutos em nós: ela nos faz
nascer mais ideias, mais poemas, mais arte, mais alegria,mais afeto, mais
afirmação, mais generosidade ,mais ousadia , mais firmeza, enfim, ela faz nascer mais do mais: ela nos faz nascer nascimentos ( "na ponta do meu lápis só tem nascimento", sorri para nós o poeta).
Árvore rizomática de múltiplas raízes .Árvore sem centro, que cresce horizontalmente e nos horizonta.
Árvore rizomática de múltiplas raízes .Árvore sem centro, que cresce horizontalmente e nos horizonta.
Precisava destas palavras agora... com lágrimas lhe agradeço, professor.
ResponderExcluirAbraços,
Flávia
Não há o que agradecer, Flávia.
ResponderExcluirEu é que agradeço a você e ao Manoel com suas terapias verbais!
Um abraço,