A razão vê,
a poesia transvê.
É preciso transver o mundo.
É preciso transver o mundo.
Manoel de Barros
Segundo Manoel de Barros, o poeta é aquele que possui visão fontana, uma visão que é fonte do que vê. Não é uma visão que
constata o referente ou objeto; diferentemente, ela é uma visão que vê , antes,
o sentido - que é a alma das coisas. Toda fonte se comunica com um fluxo
invisível , que é de onde vêm as águas que nela nascem e fluem. Embora possam
estar, hoje, sob o chão, tais águas já estiveram, outrora, no céu
- do qual caíram como chuva; elas já circularam também no interior dos
animais, como sangue e suor ; já desceram as montanhas quando a neve derreteu;
já foram orvalho nas flores, seiva nos troncos e ,nos frutos, o doce sumo; já
foram lágrimas de dor, lágrimas de alegria; já foram o meio que alimentou o
feto no interior da placenta. Um dia tais águas sustentaram a Terra, como nos
faz crer Tales; e Cristo fez delas vinho, o sangue de toda festa; sobre elas o
Espírito, um dia, andou ;hoje sobre elas se surfa, se desliza, se mergulha. E
todos, insetos e humanos, flores e animais, até mesmo a Terra, todos a bebem. É
esse elemento que está em tudo , e que é a Vida de tudo em processo, é este
elemento o que o poeta vê e sente , primeiro nele, como metamorfose e
encantamento.
Lindo texto!!! Obrigada, professor! Saiba que o senhor alcançou essa visão fontana! Sei que um dia chegarei lá, afinal o olhar museológico depende muito dela e o senhor tem me ensinado os caminhos que levam a ela. Abraços!
ResponderExcluirOlá, Flávia!
ResponderExcluirCreio que esse olhar também é um olhar generoso, e este você já o tem como uma de suas virtudes.
Um grande abraço,