quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
A VERDADEIRA NOBREZA
Ele se chamava Angenor, com esse nome nasceu.Angenor era um homem negro, simples , que mal fizera o primário. Morava na Mangueira; a Mangueira morava nele.Aprendeu a traduzir no violão o que lhe falavam as rosas. Escrevia poemas; via poesia onde todo mundo só via pobreza e miséria. Aos que só olham o chão, ele aconselhava:"Corra e olha o céu...", o "céu que a todos cobre" de forma igual.
Para ganhar a vida,já que de poesia não dava, foi trabalhar como operário de obras.O chapéu que ele usava nas obras era igual ao de todos: chapéu de operário, ordinariamente comum. Porém, o modo como ele punha o chapéu, a maneira como ele andava ,cheio de classe e elegância, fez um companheiro de obras ironizar:"Angenor,acorda: isso é só um chapéu de operário, não é uma cartola!".
E foi desse útero poeticamente subversivo, que subvertia o sentido ordinário das coisas, que nasceu Cartola, cuja nobreza de alma tornava nobre tudo o que tocava. Mesmo os que têm bom nascimento, doutoramentos acadêmicos e posses materiais, mas se lhes faltar nobreza de alma, quando estes põem uma cartola de fato, esta se transforma em um triste chapéu ordinário, espelho que se torna de uma alma assim.
Cartola, ao contrário, não nasceu nobre de sangue, mas fez a nobreza nascer em seu sangue de poeta:nascido Angenor, renascido Cartola.
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