sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

manoel: o passarinho à toa


Eu pertenço de andar atoamente.
Sei falar a linguagem dos pássaros: é só cantar.
Manoel de Barros
                             

 Quanto mais ações o corpo é capaz, mais rico se torna o pensamento.
Espinosa

Nossos cicerones são aves cantando.
Cartola

Aqueles que amaram a música e permaneceram puros quanto ao resto,
tornam-se pássaros canoros após morrer o corpo.
Plotino


Os passarinhos que nasceram e vivem em gaiolas ocupam-se mais a cantar do que os passarinhos que nasceram livres e vivem a “voar atoamente”.
Os passarinhos que nasceram livres exercem sua liberdade em múltiplas ações, e não apenas no cantar. Eles  também voam, ciscam a terra, bicam os frutos, enamoram-se, constroem ninhos, criam seus entes e lhes ensinam a voar.
Os passarinhos que nasceram no cativeiro  são livres apenas no cantar. Por isso cantando tentam se libertar, mas seu canto de prisioneiro só lhes faz lembrar a liberdade que nunca viveram. É por isso que eles necessitam tagarelar seu canto o tempo inteiro, para tentar fugir do desespero.
Passarinhos de cativeiro , se cantam bem envaidecendo seu dono, até ganham  concursos e títulos;  por isso, mesmo tristes, inflam o peito, e olham com desdém os passarinhos sem dono. Mas o passarinho-andarilho  descobiça academias e prêmios: "voar fora da asa", atoamente ,  é o único  poder que desejam.






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