sábado, 2 de dezembro de 2017

a tempestade II

"Considerei os afetos humanos, tais como o amor, o ódio, a cólera, a inveja, a glória, a misericórdia e outras comoções do ânimo não como vícios da natureza humana, mas como propriedades que lhe pertencem, assim como o calor, o frio, as tempestades e trovoadas pertencem à natureza da atmosfera e que, embora incômodos, são contudo necessários, têm causas certas pelas quais nos esforçamos de entender sua natureza." (Espinosa)


De repente, o céu fica escuro, tenso. Nuvens espessas mal conseguem guardar o ódio que lhes está dentro. O céu imenso se torna pequeno para elas.
As nuvens estão carregadas de fúria incontida: elas querem briga, vingança, ferida; uma quer destruir a outra, que só por existir e ser outra já é inimiga.
Quando se chocam, soltam faíscas, e retumbam ofensas que ensurdecem a terra.
Ao fim, todas choram a mágoa líquida, e são os homens aqui debaixo, crianças da terra, que sofrem a consequência da celeste briga.
Depois de muito chorarem, o ódio já não as incha. O vento lhes passa por dentro, mais calmas as nuvens respiram.
Os pensamentos que nutriam se vão desfazendo,  era apenas isso aquele chumbo: pensamento de ódio recíproco.
Elas vão ficando transparentes, leves se vão abrindo, se reconciliando com o infinito.
Quando a alma de si mesmo se apossa, é como o azul aberto que ela se mostra, perdoando tudo.



Campo sob céu tempestuoso, Van Gogh







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