terça-feira, 3 de outubro de 2017

o novelo e a bomba

O valor de uma ideia não está em ser verdadeira ou falsa,
o valor está em saber se ela é interessante ou bela. 
Gilles Deleuze

O ódio é como a chama que vai devorando um pavio. Ele não cessa de destruir o que o mantém vivo, exatamente o fio. O ódio só para quando atinge a bomba. 
Talvez vivamos a época em que há uma bomba no meio de um pavio que se estende à direita e à esquerda da  bomba. As duas extremidades do pavio estão acesas, e cada extremo vai consumindo seu pavio com o fito de ameaçar o outro extremo.O encontro desses extremos odiantes coincide com a vitória da bomba.
O afeto que afirma a vida não é como o fio do pavio, talvez se assemelhe ao fio que sai de um novelo , e se oferece como linha de fuga aos que estão em perigo, perdidos. Expandir o novelo através de si, criando conexões e bordaduras , é essa a maneira  que uma  linha de fuga tem de resistir. 
O fio do pavio existe em razão de uma bomba, de uma destruição. O fio do novelo se expande e se amplia, do tamanho de uma invenção, como trama, bordadura, rizoma, conexão.

A bomba se expande destruindo tudo , o novelo se expande construindo a tessitura de um mundo, mesmo que ainda por vir. 


(participo de um capítulo deste livro, falando de Cláudio Ulpiano, Deleuze, Espinosa e Manoel de Barros, novelos dos quais extraio o fio para minha bordadura).




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